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    O que há de diferente em ser Psicólogo Existencial?


    Antes de escolher e seguir uma abordagem ou linha, seja ela a Comportamental ou a Psicanálise ou a Fenomenológica Existencial, precisamos lembrar, como alerta  Sapienza (2004), que enquanto  psicólogos  “há algumas coisas (…) que independem de teoria. Uma delas é a postura do Psicólogo diante de coisas fundamentais, como, por exemplo, o respeito pelo paciente, pelo contexto da sessão de terapia, pelo segredo profissional; o bom senso de saber que a terapia, seja qual for, não pode tudo, e que às vezes, nosso paciente pode precisar também de uma ajuda psiquiátrica ou de algum outro tipo.”  Precisamos, portanto, desses fundamentos como pressupostos de nossa prática em qualquer que seja a abordagem escolhida.

    Na abordagem Fenomenológica Existencial, existem alguns conceitos (como por exemplo o enfoque no “aqui e agora”) que podem ser superficialmente ou erroneamente entendidos, e por isso, segundo Torres (2003), “fica muito fácil justificar práticas no mínimo questionáveis e irresponsabilidades profissionais em nome de algo que poucos conhecem” em profundidade. Uma coisa para se ter em mente ao selecionar esta linha é o fato de que ela não é nada fácil, muito pelo contrário, é preciso muita dedicação e estudo para atuar conforme seus princípios e metodologia. Aprender sobre filosofia e estudar alguns filósofos é primordial, pois é ai que esta linha busca seus fundamentos.

    Assim, este artigo tem como objetivos: apresentar esta linha da Psicologia para aqueles que ainda não a conhecem e esclarecer alguns pontos fundamentais da abordagem, além de contribuir com o aumento de publicações nesta área.

    Para começar, esclareceremos Existencialismo e Fenomenologia. Podemos pensar em Existencialismo como uma corrente filosófica que traz fundamentos para entender o homem, sua estrutura básica (os aspectos que fazem o homem ser homem), suas angústias e forma de ser e de se relacionar com o mundo e os outros. É, portanto, a teoria que embasa a prática nessa abordagem. Fenomenologia por sua vez, é o caminho que seguimos para conduzir as sessões, o nosso encontro com o cliente. É, portanto, o método.

    Entendemos o Existencialismo, a partir dos conceitos de grandes filósofos, como Kierkegaard, Heidegger, Nietzsche, Sartre, entre outros.  A proposta existencialista é a de orientar-se ao homem para revelar seu fundamento, analisando as questões que estão em pauta, pois elas são a estrutura do relacionamento homem-mundo. Existir é ser afetado pelo que vem ao seu encontro, por isso, para o existencialismo, o homem só existe enquanto “ser abertura” e “ser-com”, ou seja, ser que se relaciona e é afetado pelo mundo, pelos outros homens, seres e coisas. Portanto, o olhar para o ser humano é sempre focado em suas relações e no modo que é afetado por elas.

    Desta forma, o homem se mostra em sua existência cotidiana, em seu dia-a-dia, na forma como se relaciona e lida com as coisas do mundo. Os pequenos gestos e pequenos dizeres não escondem a essência do homem, mas pelo contrário, revelam-na. O existencialista não procurará, portanto, algo por trás do que se diz, mas entenderá o próprio dizer, as pequenas manifestações como sendo em si mesmas, reveladoras do sujeito.

    A proposta do psicólogo existencial então, será  analisar a forma que seu cliente se relaciona com o mundo, a forma que estabelece vínculos, incluindo a forma de se relacionar com o próprio terapeuta. Esses modos de se relacionar são sua forma de ser, sua identidade, e são reveladores de sua estrutura. Analisar essas relações possibilita o esclarecimento de sua essência, bem como o processo de constituição dessa estrutura de ser, da identidade (Piccino, 1986).

    O método Fenomenológico, descrito por Husserl, é um ponto importante nessa abordagem,  pois é  bastante rigoroso e consiste, essencialmente, na descrição do fenômeno (que é a experiência sobre o outro, ou sobre uma fantasia, ou um gesto, ou uma lembrança, etc) como ele aparece. Para  apreender esse fenômeno tal como ele se apresenta, temos que suspender os nossos conhecimentos, ou seja, pôr entre parênteses nossos pré-conceitos e pré-juízos. Isto seria a chamada redução fenomenológica ou “epoche”. Só depois de apreender o fenômeno é que vamos fazer a redução eidética, que segundo Piccino (1986), “é a possibilidade de, através de um agrupamento de exemplos, encontrar o universal que essas particularizações do geral comportam.” Ainda segundo a autora, “pela suspensão fenomenológica, podemos atingir a experiência tal como é vivida pelo cliente,[e] através da redução eidética, podemos alcançar certezas quanto aquilo que captamos de suas experiências. O agrupamento de experiências pode nos revelar a essência do modo de ser experiência de mundo de nosso cliente”.

    No momento do encontro com o cliente, portanto, não há julgamento, não existem valores, uma vez que a teoria entrará num segundo momento. Existe sim, um terapeuta presente e disposto a encontrar alguém. E é esse alguém, o cliente, quem apresentará o que há de importante, quem mostrará o caminho, quem evidenciará o que é preciso ser trabalhado. Ao analista cabe seguir esse caminho apresentado, iluminando-o e revelando-o.

    Às vezes existe uma confusão a respeito desta abordagem ser humanista ou não. Se considerarmos o humanismo com objetivo de revelar a estrutura fundamental do homem então, neste contexto, sim, ela pode ser vista como humanista, porém, difere, em diferentes graus, de certas formas de humanismo, como, por exemplo, da de Rogers (Piccino, 2000). A primazia do humanismo rogeriano é o homem, enquanto que a primazia do existencialismo fenomenológico é a relação que o homem mantém com os outros homens e entes.

    Nós, os psicólogos com a abordagem fenomenológica existencial, portanto, nos esforçamos para encontrar o outro onde ele está, e para entender o que ele entende e a forma como entende a fim de que se reconheça, assumindo a responsabilidade de suas escolhas e daquilo que continua a escolher ser, em cada momento de sua vida. E como expõe Feijoo (1998): “ajudar não significa ser soberano, e sim criado. Ajudar não significa ser ambicioso, e sim paciente”, pois o psicólogo existencial  “deve ser um ouvinte que senta e escuta o que o outro encontra mais prazer em contar, sem assombro”.

    Regina Consoni Busquets e Cinthia Silva Souza

     


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    Dia 29 de August de 2011 por Adail Bottesini


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